Jornalismo no cinema: as situações reais que inspiraram filmes

Você já teve curiosidade para saber o que determinado profissional da comunicação faz? As narrativas do cinema e da televisão, na maioria das vezes, tiram muitas dúvidas em relação a isso. Frequentemente, o audiovisual nos apresenta personagens cativantes e enredos bem costurados. Ao passo que acompanhamos alguns perrengues, experiências e situações comuns.

Enredos jornalísticos e cinema

Arte feita por Wilker Brasil (@brasilwilker no Instagram)

Já sabemos que o cotidiano de muitas profissões serve de inspiração para a arte, certo? Afinal, isso é comum na música, no teatro ou mesmo num quadro de Portinari. Mas aqui é comunicação (rs…). E existem muitos enredos jornalísticos que tornaram-se belíssimas narrativas fictícias ou documentais.

Antes que eu traga alguns exemplos, preciso esclarecer uma coisa. É que o jornalismo tem várias áreas de atuação. Algumas, inclusive, que as pessoas nem imaginam. Portanto, elaboramos uma lista de filmes bem variada. Então, você vai conhecer diferentes profissionais em suas determinadas áreas e em seus variados enredos.

Bombshell (2019) e o assédio no local de trabalho

Pôster oficial do filme Bombshell — Fonte: IMDb

O filme norte-americano tem características biográficas. Nele, acompanhamos todo o drama sofrido por mulheres jornalistas da Fox News. Megyn Kelly (Charlize Theron) e Gretchen Carlson (Nicole Kidman) realizam, simultaneamente, investigações na emissora com o intuito de denunciar casos crescentes e recorrentes de abuso. Infelizmente, essas situações são corriqueiras no dia a dia de muitas mulheres e suas profissões. A insegurança e a solidão em momentos de denúncia costumam ser barreiras para que mais e mais pessoas se manifestem perante tais abusos. Mas nesse filme, mesmo que indiretamente, elas conseguiram montar uma rede de apoio entre elas.

A jornalista Megyn Kelly reuniu algumas pessoas envolvidas diretamente no caso para assistirem juntos ao filme e comentarem depois. O vídeo postado no canal oficial de Megyn é extremamente emocionante, principalmente para as vítimas envolvidas no caso. Elas apontaram o que foi real e ficcional na história, alegando, inclusive, que algumas situações vividas foram até piores do que o filme mostra. Vale ressaltar a importância dessa obra, pois ela exibe representações visuais e palpáveis, mesmo que de uma porcentagem do real ocorrido.

O fotojornalismo em Cidade de Deus (2002)

Pôster oficial do filme Cidade de Deus — Fonte: Uau Posters

Sem dúvida, é uma notável obra brasileira. Nele acompanhamos a trajetória de diversos personagens que são forçados a conviver com o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus, um bairro da cidade do Rio de Janeiro. Desde já somos apresentados ao Buscapé (Alexandre Rodrigues), um dos protagonistas, que nos guia a maior parte da história. Ele compartilha conosco o momento exato em que seu sonho de ser fotógrafo surgiu, além da jornada que enfrentou para realizá-lo.

Então, Buscapé conseguiu um emprego como entregador de jornais, até ser presenteado com uma câmera por Zé Pequeno (Leandro Firmino), o temido traficante da favela. Dessa forma, Buscapé clicava imagens exclusivas de dentro da comunidade, graças à sua condição de morador e testemunha privilegiada dos acontecimentos. Em seguida, ele conquistou um estágio e pouco a pouco foi consolidando seu nome. Ah, e vale um registro: a história é inspirada no caso real do fotógrafo Wilson Rodrigues.

Outros aspectos do filme também foram responsáveis pelo seu sucesso internacional. No processo de edição há diversas abordagens que incrementam a história dos personagens. As transições entre o passar dos anos, as sequências de diferentes ângulos de uma mesma cena, a montagem e a qualidade dos efeitos sonoros (como o amolar de uma faca, que provoca uma imersão no calor da trama) impressionam pela riqueza de detalhes e pela delicadeza no trato dos processos.

Cidade de Deus é um tesouro nacional que nos convida a refletir e prestar atenção no real significado de dar voz e visibilidade ao talento de atores que surgiram por meio de muitos incentivos em comunidades carentes. Para ficar mais claro, talvez você queira assistir Cidade de Deus: 10 Anos Depois.

Nightcrawler (2014) e o sensacionalismo

Pôster oficial do filme Nightcrawler — Fonte: IMDb

O filme conta a história de Louis Bloom (Jake Gyllenhaal), que se define como um jornalista freelancer. Ele captura imagens chocantes de acidentes e crimes em Los Angeles. Em seguida, vende o material para um telejornal. Em uma cena da trama podemos acompanhar Nina (Rene Russo) comandando um furo de reportagem ao vivo, capturado por Louis, no telejornal da noite. Entretanto, compreendemos que a essência dos fatos retratados é o sensacionalismo que, infelizmente, ainda é constante em muitos veículos de comunicação.

Essas abordagens costumam chocar o telespectador de forma extremamente negativa, que passa a testemunhar um acontecimento como quem vê um espetáculo, e não exatamente como quem busca informações. Por sinal, este é um filme que se repete todos os dias em muitos programas da TV brasileira. Nossa sociedade, afogada em estímulos audiovisuais, parece precisar de doses cada vez mais generosas de absurdos para manter os olhos atentos a uma “atração”.

E aí, você conhecia algum desses filmes? Conseguia distinguir todas essas áreas de atuação do jornalismo? Espero que essa lista tenha aguçado sua curiosidade para buscar mais sobre o cotidiano do jornalista e outros profissionais. Fique ligado nas nossas próximas publicações!

Texto escrito dia 23 de março de 2021 para o blog Circulando, desativado em 2023.