“Fake Famous”: influencers, Baudrillard e a hiper-realidade

O documentário “Fake Famous”, disponível no HBO Max, traça um paralelo com os conceitos de simulacro de Jean Baudrillard e a hiper-realidade. No cotidiano de nossas redes essa concepção é representada pelos influenciadores digitais, que alcançam, cada vez mais, uma audiência fiel.

Portanto, o simulacro está para além da realidade do cotidiano, mas torna-se a própria referência do que é considerado real

Baudrillard e o deserto do real

Jean Baudrillard foi um filósofo francês com muita influência entre os anos de 1970 e 1990. Muitas de suas ideias são extremamente relevantes para analisarmos algumas dinâmicas nas mídias digitais, principalmente quando se trata do que ele chama de simulacros.

O professor Luís Mauro Sá Martino explica, no livro Teoria das Mídias Digitais, que para Baudrillard a realidade que conhecemos não existe mais. Uma vez que os fatores como mídia, consumo e as tecnologias da comunicação não ocorrem fora da sociedade, eles passam a assumir o papel de protagonistas nesses cenários.

Agora você deve estar se perguntando: o que é o simulacro? Então vamos lá. Continue lendo que tem um exemplo utilizado pelo Martino que nos auxilia a compreender melhor esse termo.

As redes sociais e a hiper-realidade segundo Baudrillard

Arte feita por Wilker Brasil (@brasilwilker no Instagram)

“Anos atrás, em São Paulo, na época do Natal, a associação de lojistas de uma rua de alto padrão instalou uma série de máquinas na rua que lançavam espuma. O objetivo, fazer ‘nevar’ na cidade. Acionadas em momentos determinados, espalhavam flocos de espuma brancos e brilhantes. Era neve, Natal tem neve, lá tinha neve. O fato de se estar em pleno verão, com temperaturas médias de trinta graus, não era obstáculo. A realidade não era problema para a simulação”. (MARTINO, 2014. p. 260)

Portanto, o simulacro está para além da realidade do cotidiano, mas torna-se a própria referência do que é considerado real. Presente principalmente no virtual, os simulacros substituem as imagens com algo mais real ainda, por meio da tecnologia. E uma vez que não vivemos fora do digital, tudo dentro das redes é feito para nos convencer de que aquilo é palpável.

O “real” resultante dos simulacros criados passa a ser o “hiper-real”, aquela aparência da qual somos convencidos ser a realidade. Assim sendo, há muito esforço e recursos envolvidos para representá-la, e o documentário “Fake Famous”, no HBO Max, nos auxilia a observar essa teoria de forma bem prática, por meio dos influencers.

Fake Famous: influencers e simulacros

O documentário “Fake Famous” (2021) foi idealizado pelo jornalista Nick Bilton, que buscava realizar um experimento social: satisfazer o desejo de um cidadão “comum” de ser famoso nas redes sociais. Para colocar o seu projeto em prática, um processo seletivo foi executado entre diversas pessoas, e dentre elas foram escolhidos três participantes.

Dominique foi uma entre os jovens selecionados. Ela almejava a carreira de atriz e trabalhava em uma loja de roupas. Após assistir ao documentário, podemos observar que ela é a participante que foi mais “longe” no experimento. Entretanto, Dominique não chegou à marca de 1 milhão de seguidores e, por conta do novo coronavírus, Nick disse que não foi possível realizar sua festa de comemoração.

Os simulacros são facilmente visualizados ao longo do documentário, mostrando a importância e a relevância da teoria de Baudrillard até os dias atuais. Dominique, Chris e Wylie — os outros participantes do experimento — criticam veementemente a falsidade que cerca esse segmento e dizem estar determinados a trazer sua autenticidade para seus perfis pessoais.

E você, já assistiu ao documentário “Fake Famous”? O que achou dessa teoria do simulacro associada aos influenciadores digitais? Continue acompanhando nossas postagens e fique por dentro das nossas redes. Aqui é tudo real (brinks).

E acompanhe mais sobre essa referência f*#a que utilizamos para esse texto (até na regra da ABNT para vocês):

Referências bibliográficas
MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria das Mídias Digitais: linguagens, ambientes, redes. 2. ed2 Petrópolis, RJ: Vozes, 2015

Texto escrito dia 06 de julho de 2021 para o blog Circulando, desativado em 2023.