Carta aberta aos jornalistas em formação

Durante a nossa jornada acadêmica vivemos de tudo um pouco. Uma dessas vivências, que estou aqui para dividir, é como muitas coisas que a gente gosta nos ajudam nesse caminhar

A graduação em jornalismo me mostrou o quanto os meus filmes e livros estão tão perto do nosso aprendizado teórico quanto Bauman ou Stuart Hall. Há momentos em que nada que escutamos faz sentido e é difícil de captar, mas surgem situações cotidianas ou uma cena de filme que nos remete vagamente a algum conceito em sala de aula. E o melhor de tudo é que, muitas vezes, não estamos de todo enganados.

A amplitude da comunicação nos permite reinventar, assim como esta bela releitura de “A Dança” feita pelo Wilker, que ilustra este texto, e redescobrir a sociedade e até nós mesmos. E é com muito entusiasmo que decidi compartilhar minhas explorações com quem estiver disposto a ouvi-las (ou lê-las, no caso). Além disso, este breve “até logo” foi escrito com a ajuda de algumas figuras inspiradoras para mim. E também explicarei o porquê.

Releitura da obra “A Dança”, feita por Wilker Brasil (@brasilwilker no Instagram)

À primeira vista

Acredito que muitos podem se identificar com o que vou dizer agora. Principalmente se você foi um/a pré-adolescente por volta de 2008 e se apaixonou perdidamente por uma determinada saga literária. Cada palavra que falamos aqui — cada uma delas era outra semente de romã. É fato que semeamos hábitos aos poucos. E o da leitura pode partir de diversos gêneros literários e suas formas. Mas tirando os livros que éramos obrigados a ler pela escola — incluindo alguns clássicos impalatáveis na época — a saga Crepúsculo marcou profundamente muitas pessoas.

Esses dias importaram tanto, e acabaram tão rápido. Minha memória afetiva, de estar com minhas amigas esperando horas a fio nas filas do cinema, muitas vezes grita dentro de mim. E acompanhar o anúncio de publicação de O Sol da Meia Noite, em pleno 2020, foi mágico. A empolgação com sua chegada era previsível a ponto de ser exaustiva — a mesma reação que alguém obteria se mostrasse um objeto brilhante para algumas crianças. E foi a partir daí que reparei em como esses livros foram importantes, como um ponto de partida para minha caminhada literária.

As boas lembranças acabaram sendo um manifesto da importância de nutrir o hábito da leitura e de como você não precisa fazer isso sozinho. No início da graduação compreendi isso de forma mais clara, principalmente por exercitar esse hábito com uma amiga. O que quer que tenha mudado era grande o suficiente que não deixou nenhum pedaço do nosso destino intocado. Líamos obras em conjunto, compartilhávamos indicações e empolgações. E apesar do tempo curto, a gente ajustava os horários encaixando um capítulo a mais aqui e ali.

Explorar os livros mais científicos e técnicos, sem pressa, nos traz certa maturidade com o passar dos anos. O caminhar no curso não foi nada fácil. Tanto sofrimento à frente, mais do que alegria, certamente. Mas a alegria era tão doce e tão forte que eu nunca me perdoaria se perdesse um segundo dela. Pude trazer para a minha vida acadêmica aquilo que gostava e despertava interesse, fazendo com que as teorias não soassem tão maçantes. Além disso, pude comentar sobre O Sol da Meia Noite em um trabalho. Legal, né?

Sair da cidade

A graduação não parece ser um caminho fácil a seguir, e de fato não é. Eu tenho sido testado até o limite como uma bandeira que fica próxima ao mar. Somos desafiados, nos sentimos sobrecarregados com muito aprendizado e, muitas vezes, temos de conciliar estudos e trabalho. Mas na faculdade, entre os colegas e os professores, acabamos tendo trocas incríveis em momentos descontraídos. Pode ser a indicação de um point para sair com a galera, de um filme ou livro que surge aqui ou ali. Assim como o intuito deste texto.

No estágio que fiz aqui na Agência Experimental da Univale, indicações de música rolavam soltas nas reuniões virtuais. Era uma forma que a gente encontrava para se conectar, relaxar e refletir ao mesmo tempo. Além de nos identificarmos com vários trechos cantados por artistas que gostamos, vez ou outra me batia um lampejo de uma teoria aprendida na sala. E isso era uma das coisas que eu mais gostava na agência: podia trocar ideias diretamente com os professores.

Fiz um texto aqui no blog sobre o álbum Trench, do Twenty One Pilots, que ilustra perfeitamente o que quero dizer. As músicas do duo estão comigo desde a época do meu ensino médio e, acredite, foi há um bom tempo. Em uma época na qual a dúvida sobre “o que fazer?” acabou me tomando alguns anos de formação acadêmica. Mas tudo bem. Faz parte, não é? Sei que alguns dos meus amigos estão lendo este texto. Você sabe, eu sempre fui retraído, calmo e sossegado. A comunicação não soava muito bem para mim. Mas foi por meio dela que acabei buscando as melhores maneiras de me expressar.

Não, eu não sei pra que lado seguir. Mas posso ouvir o meu caminho por perto. É comum, mesmo já formados, ou à beira da colação de grau, nos sentirmos incertos sobre o que fazer a seguir. Os professores reconhecem esse sentimento, já estiveram nesse mesmo lugar. Por isso essas trocas são importantes e a nostalgia, depois, acaba batendo forte. Eles sabem que está quase no fim. Mas o aprendizado é constante.

That’s Life!

Um dos grandes momentos esperados e temidos pelos formandos é o Trabalho de Conclusão de Curso. Famoso TCC. Quando entrei na graduação essa era a minha maior empolgação: encontrar um tema que eu gostava MUITO e falasse dele 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não tinha noção nenhuma de metodologia ou fundamentação teórica. Mas a vontade em fazer um bom trabalho já estava ali, sem dúvidas. Era parte do meu número. Queria ser transformada pela ciência antes mesmo de ter clareza sobre esse lado da comunicação.

Nesse meio tempo, Joker estreava nas telas de cinema do Brasil. Era outubro de 2019, e o filme gerou diversos debates sobre temáticas fortemente ligadas ao mundo contemporâneo. As inúmeras possibilidades de questionamentos que essa obra me trouxe fez com que eu enxergasse uma oportunidade para explorá-las em um TCC. Talvez fugir um pouco das teorias do fandom, sabe? Mas algo fatídico aconteceu no mundo: a pandemia do novo coronavírus.

Muitas vidas foram perdidas, um genocida à solta e nós, brasileiros, estávamos mais uma vez em um momento delicado em relação ao nosso emocional. E ainda estamos. É preciso ter muito respeito pelo momento, uma crise sanitária de proporções jamais vistas. Por outro lado, o sentimento de ter de seguir em frente, já que parar seria a pior contribuição a ser dada ao mundo. A notícia nunca acaba. E as manchetes ainda são as piores possíveis. Portanto, concluir a graduação nesses tempos conturbados foi um grande desafio.

No ambiente acadêmico, tivemos muito apoio dos nossos professores. Buscamos a gentileza, o amparo e a compreensão, formando um elo afetuoso de parceria. Enfrentar o TCC com a ajuda de muitos, no final das contas, fez com que o processo de aprendizado soasse feliz. E, de fato, falar sobre um tema que gostava me empolgou e motivou a pesquisar. Por mais que a ciência se mostrou mais difícil depois de conhecê-la de perto, a dimensão da sua importância ficou mais clara para mim. Sim, viva a ciência!

Nos veremos de novo. Estaremos aqui. Eu espero.

Acredito que você já tenha percebido os trechos em destaque neste texto. Retirados das obras citadas nos respectivos tópicos, busquei, mais uma vez, inserir aquilo que gosto com a comunicação. Deixo o meu incentivo para que você explore-as por completo, e não apenas como os fragmentos desta carta aberta.

Sendo mais direta, digo a você que busque maneiras de se empolgar com a graduação. Ver parte do que gostamos e de alguns lampejos das nossas identidades é uma forma de nos sentirmos representados pelo conhecimento. E não tenha receio de conversar com os professores. Na maioria das vezes eles já estão no aguardo ansioso desse contato. Você não está sozinho nesse ciclo importante que escolheu traçar, portanto torne-o o mais divertido possível.

Fica aqui uma lista com mais dicas minhas para você explorar.

Texto escrito dia 18 de agosto de 2021 para o blog Circulando, desativado em 2023.